Gratidão é uma palavra pequena.

“Como é bom render graças ao Senhor e cantar louvores ao teu nome, ó Altíssimo; anunciar de manhã o teu amor leal e de noite a tua fidelidade,” — Salmos 92:1–2

Lembro da minha mãe sempre me ensinando mansamente: “não esqueça de agradecer, tudo o que você tem é porque alguém lutou por isso”.

Aquilo sempre fez parte da minha rotina: não falar obrigado depois de um favor ou presente era algo inimaginável para mim enquanto crescia. De vez em quando me pegava imaginando o que faria se não tivesse minhas roupas, comidas e até casa para morar e pior ainda, como seria se não pudesse ir para a escola? (SIM, eu era uma nerd total)… Na hora me sentia imensamente abençoada e dava muito valor a cada sacrifício que minha mãe fazia para que eu tivesse tudo isso.

A gratidão é muito relacionada a nossa auto percepção e a convicção gerada pelo Espírito Santo de quem somos Nele, do que seríamos sem Ele e de como somos amados por Ele.

Por muitas gerações o povo de Israel permaneceu escravo dos Egípcios, onde foram criados debaixo de uma cultura pagã, sem a presença do único e verdadeiro Deus. Estavam presos, se esquecendo de quem realmente eram, sofrendo nas mãos dos faraós por gerações. Quando finalmente foram libertos, atravessando o Mar Vermelho e presenciando sinais e milagres no caminho, o povo continuamente reclamava do deserto, desejando até voltar a ter a vida de escravos que tinham no Egito. Muitos não conseguem ser gratos, pois não compreendem de onde foram tirados e nem o que seriam sem as bênçãos recebidas.

Repetir para o espelho: “seja grato”, ou separar alguns minutos por dia só para agradecer pode até te ajudar, mas certamente não será o suficiente. A verdadeira gratidão não nasce apenas do esforço e disciplina, mas sim, da revelação de quem Jesus Cristo é para nós. Muitos dizem que a gratidão é um exercício, e pode ser um exercício saudável SIM, mas assim como qualquer outra disciplina ela só se torna sustentável a longo prazo quando existe um alvo maior do que a disciplina em si. Eu não sou a pessoa mais disciplinada, e o que me faz fazer tudo que faço diariamente é porque para mim existe uma razão maior — sempre precisa haver uma motivação maior para que não seja um peso ou uma obrigação.

Quando realmente compreendemos que Ele abriu o caminho, sofrendo perseguição, traição, injustiças e uma morte terrível, para que tivéssemos acesso a presença do Pai, é impossível permanecermos indiferentes.

Muitos anos atrás, uma moça veio me procurar dizendo que não conseguia sentir a presença de Deus por meses. Ela pareceu muito frustrada, pois examinava sua vida da cabeça aos pés e não conseguia encontrar nada que pudesse estar no caminho. Em nossa conversa, perguntei de tudo, investiguei, busquei mágoas, falta de perdão e até pecados escondidos, mas não havia nada fora do lugar. Ficamos de conversar na semana seguinte.

Disse para ela que iria orar por ela, para que ela não desistisse da sua busca diárias com Deus e que permanecesse crescendo em fé. Pedi que ela então me procurasse na semana seguinte para conversarmos novamente.

Depois de nos despedirmos, fui andando para o meu carro, e essa moça não saia da minha cabeça. Perguntava ao Espírito Santo, o porquê de tanta dificuldade. Ele com seu jeito tão simples e certeiro me respondeu: “fale para ela ser grata”. Foi tão direto que até levei um susto. Logo entrei em contato com ela e simplesmente pedi que ela tentasse agradecer mais nos próximos dias.

Na semana seguinte essa mesma moça entrou na minha sala e seu semblante era totalmente diferente, ela parecia estar muito alegre. Logo que sentou disse: Zoe, tive um encontro com a presença do Pai essa semana, parece que tudo está normal novamente. Então perguntei o que ela tinha feito, e ela só me disse que tinha sido grata. Grata pelos momentos que Deus já havia falado com ela antes, grata pelo sacrifício de Jesus Cristo, grata por estar viva, grata por ter a oportunidade de conhecer a Deus e assim por diante.

Muitas vezes nossa ansiedade de sentirmos Deus, nossa pressa de termos um encontro sobrenatural acaba sabotando uma experiência nova com Ele. Queremos replicar o que já tivemos com Ele antes, queremos reviver um momento especial, sendo que Ele tem novidades diárias para nós.

Esquecemos de sermos gratos pelo que Ele já nos deu e como criança simplesmente esperarmos Nele. Não precisamos de um próximo encontro, precisamos da revelação de Jesus em nosso coração, pois isso não se restringe a um momento específico, mas sim a uma vida cheia Dele.

A gratidão é o primeiro passo para uma vida de adoração, é a porta de entrada para a presença de Deus. No Tabernáculo de Moisés, o portão de entrada era o lugar onde acontecia as ações de graças e ali vemos o povo de Deus se preparando para esse momento incrível. Que a gratidão seja sempre nosso combustível e nosso caminho para a Sua presença. Nada melhor do que estar com Ele e diante da Sua presença.

Pois é na presença de Deus que enxergamos a vida da maneira correta. Onde a comparação com os outros não existe, e nem a grama do vizinho aparenta ser mais verde. Onde tudo que temos, mesmo sendo velho ou barato, se torna o melhor que Deus nos proporcionou naquele momento.

É em Sua presença que enxergo que eu posso viver SIM tudo que Ele tem para mim, que os Seus caminhos são mais altos que os meus, que os Seus planos são bem melhores que os meus e que nada pode me separar deste Amor infalível.

Quando estou ali, a minha reclamação, a minha comparação, a minha insatisfação é logo trocada por um novo ânimo para viver, uma nova força para batalhar pelo melhor e uma nova percepcão do Seu Amor por mim.

Gratidão é uma palavra muito pequena para todo esse sentimento que tenho dentro de mim, de olhar para minha história e ver que Deus nunca desistiu de me desejar, de esperar ansiosamente a minha voz pela manhã e o meu sorriso ao dormir em Seus braços.

Pelo o que você pode ser grato hoje?

– Zoe Lilly

(trecho do meu livro: “À Mesa com Ele”)

Você tem uma história com Ele?

Sempre tem aquele momento especial no meio de uma cerimônia (casamento, despedida, boda, formatura, aniversário…) que o amigo mais chegado pega o microfone e fala algo para o homenageado do dia.  Você vê as tias pegando o lençinho da bolsa, as moçinhas ramelando os olhos maquiados, os senhores segurando o choro, as crianças …. humm… quase nem prestam atenção, estão correndo e brincando pelo salão.

Nesses momentos, o amigo mais chegado fala de coisas que ninguém sabe – às vezes fica até dificil de entender o que somente o homenageado entende. Piadas internas, memorias engraçadas, momentos emocionantes e assim vai.

Estava em uma reunião liderando a adoração e durante a adoração observei duas pessoas, um senhor de 67 anos e uma moça de 25 anos. A moça (já cristã) estava cantando só de vez em quando, mal percebia o que estava acontecendo, olhava constantemente ao seu redor e às vezes o celular. Do outro lado o senhor de idade parecia profundamente apaixonado por Jesus e cantava com uma expressão no rosto que nunca esquecerei, segurava as duas mãos juntas e lágrimas enchiam os seus olhos. 

Naquele momento fiquei indagando a mim mesmo por que duas pessoas em um mesmo ambiente, cantando a mesma canção tinham tido reações tão diferentes. Por um instante me frustrei que a moça mal cantava e adorava, talvez eu estava fazendo um péssimo trabalho como líder de adoração, mas fiquei emocionada ao ver aquele homem tão intimamente adorando.

Saí da reunião e na volta para o meu carro fui conversando com Deus, perguntando por que aquilo havia acontecido. Gentilmente o Espírito Santo disse:

– Sabe aquele senhor? Ele tem uma linda história comigo, já vivemos tantas coisas – passamos por tanto na vida já juntos e ele sempre tem algo para entregar a mim. Aquela moça, apesar de anos na igreja, ainda está para começar essas histórias comigo. E você filha? Você ama nossa história, quantas já temos juntos?

Naquele momento eu me emocionei de pensar em minha história com Deus e me arrependi também de ter julgado aquela moça. A minha história com Ele não é a melhor de todas, nem a mais interessante, mas ela é a razão de tudo em minha vida.

Como um flash comecei a lembrar dos nossos momentos, de como fui guardada da morte no ventre da minha mãe, de como fui acolhida pelo abraço de Deus quando meu pai abandonou nossa família, quando Ele me segurou quando estava prestes a desistir de tudo na minha adolescência, de como Ele me perdoou quando errei inúmeras vezes, quando Ele me consolou quando perdi pessoas queridas e sofri tantas traições e a lista continua eternamente.

Não importa quantos anos de convertido, nem o quanto você estudamos teologia – se nós não temos histórias com Deus, será tão difícil ter o que cantar e falar.

Não adoramos de um lugar distante e abstrato, mas de um lugar real onde Ele é o protagonista que nos constrange com tanto Amor. A nossa RESPOSTA a Ele é totalmente conectada a nossa PROFUNIDADE no relacionamento com Ele. Que hoje venhamos começar (ou retomar) uma história com Ele, que nossa canção, nossa expressão, nosso amor seja de um lugar tangível e profundo.

Viva sua história com Ele.

Sem medo.
Sem reservas.
Sem indiferença.

E assim viverá apaixonadamente.

Perfeição que incomoda

“Não acredito que você está chorando”, “como assim, já é convertido há anos e ainda sofre com esse vício?”, “Ah, se você apenas seguisse esses passos, você com certeza seria curado”, “como é que você ainda está nesse nível?”, “ainda não conseguiu descobrir seu chamado?”….. e a lista continua.

Parece que hoje em dia (provavelmente há séculos) a imperfeição incomoda profundamente a todos, ou talvez seja o contrário, pois é a perfeição que me incomoda mais. Tudo precisa estar no lugar certo, na hora certa e na maneira certa. É claro que eu amo quando eu gabarito uma prova, quando consigo vencer um obstáculo gigante, quando tudo parece estar em plena paz ao meu redor e dentro de mim. Só que a perfeição mesmo eu nunca encontrei ainda nessa vida.

Lidar com as conquistas é fácil, mas lidar com o fracasso é uma arte que parece que nunca nos foi ensinada. Ouvimos desde criança: “Você pode ser quem você quiser ser, basta querer” ou “Você é especial e tem algo lindo que o mundo precisa.” Daí crescemos, e vemos que nosso chefe não vai com nossa cara, nossos colegas são muito mais talentosos/influentes do que nós, que às vezes o dinheiro que esperamos não aparece, que a doença nos pega de surpresa, que nossos relacionamentos não são como os de comédia romântica, e que nosso emocional não cresce na velocidade da nossa idade cronológica.

O fracasso é real. A dor é palpável. A tristeza é tangível. Sim. Tudo isso existe. Só que parece que mais do que fora da igreja, dentro da igreja isso não pode existir. Fico a pensar nas palavras de Jesus: “No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.” Eu sempre sou tão grata que Ele foi perfeito para me dar vida eterna, mas mais que isso, Ele soube navegar as águas da decepção, da fraqueza e da rejeição e sendo humano, venceu.

Vivemos em uma cultura de igreja em que não podemos sofrer, que o fraco é aquele que chora o culto inteiro, que o frágil é aquele que compartilha suas fraquezas, que o inseguro é aquele que não tem as respostas.

Aprendi que em cada sofrimento, eu sou transformada por Ele, eu me torno mais sensível ao meu próximo, perco minhas respostas prontas e me encontro com mais perguntas do que quando comecei. Aprendi que existe sim a beleza na imperfeição, existe sim a força na vulnerabilidade, existe sim a coragem em meio as lágrimas.

Chore o que precisar, desabafe a dor e grite sua frustração. Deixe de lado a roupa da perfeição falsa e veja que está tudo bem, sim, mesmo com tudo desmoronando, está tudo bem. O sol voltará a brilhar, o mar será mais calmo, as flores nascerão novamente — tudo em Seu perfeito tempo.

A vida é um conjunto de ritmos variados, de melodias e silêncios, de vales e montanhas. O que foi conquistado na Cruz por nós não foi uma vida perfeita, mas uma vida inundada de Graça para continuar sem amargura, sem rancor e lutar pelo próximo tempo melhor. Que hoje em nosso coração ecoe sempre as palavras: “Tende bom ânimo. Eu venci.”